sábado, 28 de agosto de 2010

Judeus trouxeram costumes que foram incorporados

Varrer a casa da porta para dentro, contar as estrelas, gavetas na mesa de jantar: entenda de onde vieram esses hábitos

Por Marjones Pinheiro

Quantas vezes, quando crianças, a gente ouviu os pais ou os avós falarem: se contar estrelas, cria verruga? Outra pergunta intrigante: por que varrer a casa da porta da frente para trás? As respostas para essas perguntas estão na chegada dos cristãos-novos ao Brasil, pois preservar as tradições foi uma questão de sobrevivência para o povo judeu.

Mesmo espalhados em vários países, eles conseguiram manter uma identidade judaica. No Brasil, não foi diferente, embora, muitas vezes, os costumes precisassem ser disfarçados, fazendo surgir o criptojudaísmo. "Criptojudaísmo é o resultado da conversão forçada dos judeus ao catolicismo e refere-se aqueles que secretamente preservavam as práticas judaicas", explica a historiadora Tânia Kaufman.

Por causa disso, as crianças judias não podiam apontar para o céu. “A mãe da gente sempre dizia: menina, não conta as estrelas, porque cada estrela que você contar é uma verruga que vai sair em você”, relembra a professora Alaíde de Barros.

A historiadora endossa: "As mães proibiam os filhos de apontar as estrelas porque tinham medo que fosse visto por alguém e denunciasse como prática do judaísmo, uma vez que o surgimento da primeira estrela é a marca do início de um novo dia dentro do calendário judaico".

Você já parou para pensar por que a sexta-feira é o dia da faxina? "Sexta-feira dia de faxina é um costume provavelmente de origem judaica porque ele remonta à preservação, à guarda do Shabat. A purificação é feita para receber o Shabat não só espiritualmente, mas também preparando a atmosfera do lar para essa chegada”, continua a historiadora.

O jeito como as pessoas varrem a casa também tem ligação com os judeus. “Eu varro começando da frente para trás. Porque dizem que, se for ao contrário, a gente está botando as pessoas para fora de casa”, diz a estudante Maria Giane de Barros, moradora de Salgueiro, no Sertão pernambucano.

“Esse é um costume que é um respeito a mezuzá, que é uma caixinha onde tem um dos mandamentos do judaísmo e ela é colocada no umbral direito da porta de entrada. É considerado desrespeito varrer a casa levando o lixo passando por ela. Mas também tem uma outra origem: o morto ele sai pela porta da frente e é em respeito a essa passagem que o lixo não passa pela porta da frente”, explica Tânia Kaufman.

Essas são histórias que o cantor Santana conhece bem. “Dizem que foi quando os cristãos-novos chegaram, que se percebiam como judeus, convertidos ou não, eles queriam passar suas verdades para os descendentes. Eles ensinavam a fazer, mas não diziam o porquê. Muita gente diz: não tem registro! Nem podia, ter porque se tivesse registro com certeza eles iam presos e seus bens confiscados”.

Nossa equipe pegou a estrada e encontrou mais exemplos. Um dos mais curiosos é a mesa de jantar com gavetas. “A comida que estava na gaveta era a comida que eles não podiam comer, que era a carne de porco, a linguiça e outros alimentos proibidos. A comida que eles iam se alimentar naquela refeição estava lá na mesa se chegava uma pessoa eles substituiam. eles colocavam o que estavam comendo dentro da gaveta e tiravam da gaveta a que não causasse suspeita.

Para onde os judeus imigraram, não acontece tanto, mas, em Israel, o país para no Shabat, o dia do descanso, que começa ao anoitecer da sexta-feira e termina na noite de sábado. Em Israel, neste dia quase nada funciona e ruas e avenidas ficam desertas. Os hotéis deixam claro para os hóspedes que não há serviço de quarto.

Em Safed, uma das cidades israelense onde os costumes judaicos são seguidos à risca, uma placa indica que, aos sábados e dias de festa, a entrada no local é proibida. Apesar da barreira, a equipe da Globo Nordeste entrou e circulou por safed. Postos de combustíveis, escolas e indústrias estavam fechados. Nas ruas, apenas poucos judeus ortodoxos, sempre a pé, porque carros e ônibus também não podem ser usados.

O rabino Berel Lazar, líder da comunidade ortodoxa judaica russa Lubavitch, cumprimenta o rabino Yona Metzger, de Israel, em Moscou Foto: AP

O judaísmo tem ao todo cerca de 12 a 15 milhões de seguidores
Foto: AP

O judaísmo é a mais antiga das quatro religiões monoteístas do mundo e a que tem o menor número de fiéis. Ao todo são cerca de 12 a 15 milhões de seguidores. Segundo analistas, se não houvesse o Holocausto - matança em massa de judeus, ocorrida entre as décadas de 30 e 40 no século 20 -, o número de judeus seria de 25 a 35 milhões em todo o mundo. E muitos deles viveriam na Europa.

Atualmente, a maioria dos judeus vive em Israel e nos Estados Unidos. Na Europa, a maior comunidade judaica encontra-se na França. O judaísmo não é uma religião missionária, à procura de converter pessoas. Aqueles que se convertem, no entanto, devem observar os preceitos da Torá (a lei judaica), que incluem, entre outras coisas, a circuncisão masculina.

Origens
O começo do judaísmo como uma religião estruturada acontece com a transformação dos judeus em um povo influente através de reis como Saúl, Davi e Salomão, que construiu o primeiro templo em Jerusalém. Mas em cerca de 920 a.C, o reino de Israel se dissolve, e os judeus começam a se dividir em grupos. Essa foi a época chamada de Era dos Profetas. Em cerca de 600 a.C, o templo é destruído e a liderança israelita assassinada.

Vários judeus foram enviados para a Babilônia. Apesar de alguns serem autorizados a retornar a casa, muitos permaneceram no exílio formando aí a primeira Diáspora, que significa ¿viver afastado de Israel".

Os pilares da fé
Segundo os judeus, existe somente um Deus, todo-poderoso que criou o universo e tudo o que nele há. Os judeus acreditam que Deus tenha uma relação especial com o seu povo, consolidada no pacto que fez com Moisés no Monte Sinai, 3,5 mil anos atrás.

O local de culto dos judeus é a sinagoga. O líder religioso de uma comunidade judaica é chamado de rabino. Ao contrário de líderes de outros credos religiosos, o rabino não é um sacerdote e não goza de status religioso especial.

O dia da semana sagrado para os judeus é o sábado, ou sabat, que começa com o pôr do sol na sexta-feira e termina com o pôr do sol no sábado. Durante esse dia, judeus ortodoxos tradicionais não fazem nada que possa ser considerado trabalho. Entre as atividades proibidas estão dirigir e cozinhar.

Fundamentos da Fé Judaica
Analistas definem a essência de ser judeu como participar de uma comunidade judaica e viver de acordo com as tradições e leis judaicas. O judaísmo é um modo de vida fortemente associado a um sistema de fé e convicções religiosas.

O judaísmo surgiu em Israel há cerca de 4 mil anos. Tanto o cristianismo como o islamismo - até certo ponto - derivam do judaísmo. O judaísmo não estabelece doutrinas ou credos, mas é uma religião que segue a torá, interpretado como a orientação de Deus através das escrituras.

Os judeus vivem sob um pacto com Deus, segundo eles, não para benefício próprio, mas para o benefício de todo o mundo. O grande estudioso do judaísmo Hillel (que viveu entre 70 a.C e 10d.C) resumiu assim o significado da religião: "Não faça a seu próximo aquilo que não gostaria que fosse feito a você. Esse é o centro da lei judaica, o resto são meras observações".

Judeus e fé
Os judeus acreditam que os seres humanos foram feitos à semelhança de Deus. Obedecer a "lei" é fazer a vontade de Deus e demonstrar respeito e amor por Deus. É por isso que judeus religiosos seguem certas práticas espirituais sem precisar de razões extra-religiosas para obedecer as regras.

Um exemplo para isso seria a obediência às leis gastronômicas do costume judaico. Todos os judeus têm uma forte ligação com Israel, que seria a terra prometida por Deus a Abraão, e à cidade considerada sagrada de Jerusalém.

Livros sagrados
A Torá, ou a Bíblia hebraica que é chamada pelos cristãos de Velho Testamento, reúne especialmente os cinco primeiros livros da Bíblia cuja autoria é atribuída a Moisés, o chamado Pentateuco. Pelo menos uma cópia da Torá, em hebraico, é guardada em cada sinagoga em forma de pergaminho. O Talmud, um compêndio da lei e comentários sobre a Torá aplicando a situações contemporâneas e circunstâncias variadas.

O símbolo do judaísmo é o magen chamado de estrela de Davi. Muitas pessoas se consideram judias sem tomar parte em nenhuma das práticas religiosas ou até mesmo sem aceitar os fundamentos do judaísmo, mas somente pelo fato de se identificarem com o povo judeu e por seguirem os costumes gerais de um estilo de vida judaico.

Festivais
No judaísmo, o chanuká, o festival das luzes, é comemorado com a preparação de tradicionais bolos de batata e muitas velas acesas. O chanuká é interpretado hoje em dia como um símbolo da sobrevivência do povo judeu. Panquecas de batatas, Latkes, um dos pratos preferidos para o Chanuká.

Em países cristãos onde o Natal é a festa mais importante no fim de ano, o chanuká tornou-se uma espécie de equivalente judaico. É comum presentear as crianças nessa época.

Deus e o Messias
Os judeus acreditam na existência de somente um Deus que criou o universo e continua responsável pela sua manutenção. Segundo o judaísmo, Deus sempre existiu e sempre vai existir. Ele não pode ser visto ou tocado.

Entretanto, Deus pode ser conhecido através do louvor e se pode chegar mais perto de Deus através de estudos e a prática da fé. Deus separou os judeus como povo escolhido para servirem de exemplo para o resto da humanidade.

Deus deu a torá aos judeus como uma guia para obediência e uma vida santa que Ele quer que os judeus tenham. Os judeus acreditam que "o Messias", que é uma pessoa especialmente ungida por Deus, (o que significa particularmente enviada) um dia virá ao mundo. A chegada do Messias vai trazer consigo uma era de paz.

Definição de Deus
Para o judaísmo, Deus existe e é somente um. Ele não pode ser dividido em diferentes pessoas, como se crê no cristianismo. Entre os outros princípios dos judeus em relação a Deus, estão:

  • Judeus devem adorar somente um Deus e não outros deuses.
  • Deus é transcendental, está acima de qualquer coisa.
  • Deus não tem um corpo, ou seja não é masculino, nem feminino.
  • Ele criou o universo sem ajuda.
  • Deus é onipresente e onipotente.
  • Deus é atemporal. Sempre existiu e sempre vai existir.
  • Deus é justo, mas também é misericordioso.
  • Ele é um Deus pessoal e acessível. Deus se interessa por cada um individualmente, ouve a todos individualmente e fala com as pessoas das mais diferentes e surpreendentes formas.

    Família
    O judaísmo é uma religião da família. Os judeus se consideram parte de uma comunidade global com laços estreitos com outros judeus. Grande parte da fé judaica é baseada nos ensinamentos recebidos no lar e nas atividades em família.

    A cerimônia de circuncisão, por exemplo, acontece no oitavo dia de vida de um bebê do sexo masculino, seguindo assim as instruções que Deus deu a Abraão, 4 mil anos atrás. Um outro exemplo é a refeição do sabat celebrada em família.

    Os vários tipos de judaísmo
    Os judeus estão divididos de acordo com suas práticas religiosas e origens étnicas. Há dois grupos de judeus, um originário da Europa Central, conhecido como Askenazi, e outro com raízes na Espanha e no Oriente Médio chamados de sefarditas.

    As principais divisões baseadas na fé e na prática religiosas são: Judeus ortodoxos, "ultra-ortodoxos" e conservadores.

    Judeus ortodoxos acreditam que a torá e o talmud foram revelados por Deus diretamente ao povo israelita. Por isso, eles consideram estas escrituras a palavra de Deus e a autoridade máxima para estabelecer as diretrizes e tradições do judaísmo. Os judeus ortodoxos formam o maior grupo na maioria dos países com exceção dos Estados Unidos.

    Já os judeus ultra-ortodoxos obedecem estritamente as leis religiosas. Eles vivem em comunidades separadas e seguem seus próprios costumes. De uma certa forma, eles vivem isolados do mundo que os cerca. Os ultra-ortodoxos, um dos grupos que mais crescem entre os judeus, preferem o nome ¿haredi¿, em vez de ultra-ortodoxos.

    Os judeus conservadores se localizam em uma espécie de meio termo entre os ortodoxos e judeus renovados ou reformados. Os conservadores também são conhecidos como masorti.

    Judeus renovados e judaísmo humanístico
    Os judeus renovados ou reformados adaptaram sua fé e costumes à vida moderna e incorporaram as descobertas que estudiosos contemporâneos fizeram sobre os primeiros judeus. O movimento da reforma começou no início do século 19, na Alemanha.

    Esse grupo não considera a torá e o talmud como a palavra real de Deus, mas como escrituras de seres humanos inspirados por Deus.

    Judeus reformados
    Esse grupo crê que os textos da torá e do talmud podem ser reinterpretados para adaptar-se a tempos e espaços diferentes. Com base nesta leitura, homens e mulheres podem sentar juntos em uma sinagoga reformada, ao contrário de uma sinagoga ortodoxa, onde seriam segregados.

    Mas há muitos elementos do judaísmo que são conservados como imutáveis pelos judeus reformados, ainda que eles não observem outros preceitos básicos em outras áreas da religião. Uma característica fundamental do judaísmo reformado é a justiça social, o que tem levado muitos judeus reformados a liderar movimentos ativistas políticos.

    Os judeus reformados formam o maior grupo de fiéis do judaísmo nos Estados Unidos, onde também existe um movimento para resgatar as práticas tradicionais da adoração a Deus. O judaísmo reformado também é forte na Grã-Bretanha, onde existe uma versão mais tradicional que a praticada nos Estados Unidos. O equivalente britânico mais próximo do judaísmo reformado é o movimento liberal.

    A corrente reconstrucionista e judaísmo humanístico são movimentos modernos americanos que não aceitam os elementos sobrenaturais encontrados em outros tipos de judaísmo.









  • Por Chana e Dovid Zaklikowski

    Os meses de gravidez são uma época muito valiosa e delicada. Como certamente seu médico já informou, a atitude, comportamento e opções nutricionais da mãe durante este período têm um profundo impacto sobre a saúde e futuro desenvolvimento do feto. Recentes estudos médicos também apontam os efeitos do ambiente físico e emocional no bebê por nascer. A mulher grávida deve ser cercada por uma atmosfera positiva, calma e tranqüila. Ira e ansiedade devem ser evitadas ao máximo.

    O mesmo se aplica a respeito do desenvolvimento espiritual do embrião e feto; o comportamento da mãe, bem como seu ambiente, têm efeitos duradouros na nova vida em desenvolvimento. Nossos Sábios encorajam as mulheres a usarem os meses de gravidez para aumentar suas boas ações e refinamento espiritual. Para este fim, a mulher grávida deve ir à sinagoga sempre que possível, e participar em aulas de estudo de Torá.

    Embora todas as boas ações e mitsvot sejam benéficas ao bebê que vai nascer, nossos Sábios enfatizam o valor de fazer mais caridade. Ser bom com os outros faz com que D'us nos trate da mesma maneira. Além da caridade regular que a pessoa distribui, a caridade deve ser feita todo dia – ter uma caixinha de tsedacá em casa facilita essa prática. A hora mais apropriada para doar para caridade é antes do Shabat ou do acendimento de velas numa Festa Judaica. Nessa hora, deve-se acrescentar em tsedacá, considerando que no dia seguinte a pessoa estará impossibilitada de fazê-lo, devido à restrição de manusear dinheiro nesses dias sagrados.

    Assim como uma mulher grávida deve ser meticulosa sobre as suas necessidades nutricionais, deve também cuidar da "nutrição espiritual". Comer somente alimentos casher tem um impacto extremamente positivo sobre o feto.

    Eis aqui alguns costumes relacionados à gravidez e ao parto, que são praticados por várias comunidades judaicas:

    • Alguns têm o costume de manter a gravidez em segredo dos amigos e conhecidos até o quinto mês, a menos que se torne aparente… Esta restrição não inclui membros da família.1
    • Alguns têm o costume de o marido abrir a Arca da sinagoga antes da leitura da Torá durante o último mês de gravidez. O Zohar diz: "Quando a congregação tira o Rolo de Torá, os Portões Celestiais da Misericórdia se abrem, e o amor de D'us é despertado." O marido abrindo os Portões do Céu atrai a bênção misericordiosa de D'us para que o parto seja fácil e sem complicações.
    • Em algumas comunidades é costume que a mulher judia mergulhe num micvê durante o nono mês de gestação. Fale com sua rebetsin ou "atendente do micvê" sobre planejamento e preparação. É aconselhável consultar seu médico antes de ir ao micvê.
    • Durante a gravidez, mãe e pai devem aumentar sua recitação de Tehilim.2 Antes de irem para a cama, é costume o marido recitar o Salmo 20. Ao terminar, deve repetir o segundo versículo do Salmo.
    • As mezuzot da casa devem ser inspecionadas por um escriba durante os meses de gravidez. Se a pessoa não tem mezuzot em toda a casa, agora é a época para adquirir novas mezuzot.
    • Uma mulher grávida deve esforçar-se para ser exposta a visões e sons sagrados. Para isso, sempre que possível ela deve evitar olhar para animais não-casher (visitas ao zoológico podem esperar até depois do nascimento).3 Deve evitar ouvir fofocas, maledicência ou outras conversas perniciosas.
    • Em muitas comunidades, a mulher grávida não visita cemitérios a fim de evitar locais que podem levar a emoções negativas.
    • É costume ter uma cópia do Salmo 121 na mão durante o parto.
      Se possível, durante as etapas finais de trabalho de parto, o marido deve recitar estes Salmos: 1, 2, 3, 4, 20, 21, 22, 23, 24, 33, 47, 72, 86, 90, 91, 92, 93, 104, 112 e 113 até o 150.